domingo, 25 de fevereiro de 2018

“CAUSOS” DA INTERPRETAÇÃO – A SALA DO PÂNICO

Olá, pessoal da Libras! Tudo bem com vocês?

Bom, pelas minhas contas, já fiz umas 7 bancas para intérprete de Libras (graças a Deus, passei em todas, só pela graça mesmo!). Em todas elas, observei um fenômeno que denominei como “a sala do pânico”.

É nesse momento que as coisas começam a dar errado!

Acontece assim... você chega super nervosa para a banca (pois um fato declarado é que ninguém gosta de ser avaliado), tentando relembrar os sinais que você já conhece para uma prova que você nem imagina o que vão pedir e aí começa a conversar com as pessoas que vão fazer a banca junto com você.
O legal é conversar, conhecer pessoas novas (e acredite, em algum momento de sua vida de intérprete vocês vão encontrar com estas mesmas pessoas), compartilhar histórias e experiências. Mas então, sem esperar, começa o fenômeno da sala do pânico...
De repente, com a proximidade da prova, instala-se um pânico geral na sala de espera. Geralmente começa quando alguém sai da sala da banca meio cabisbaixo ou com uma expressão de desespero e isso te contagia. Se você não cuidar, o que antes era tranquilidade vira pânico em seu coração.
Você começa a ficar nervoso, as mãos suam e piora quando alguém na sala faz um sinal que você ainda não conhece! “Ué, que sinal é esse?” – Nãããooooo!!! Parece que tudo o que você conhece some da sua mente devido a um único sinal que você nunca viu na vida! É nesse momento que a sua aparente paz de espírito fica num cantinho de castigo na sala do pânico!
Não deixe isso acontecer! Lembrem-se que a expressão faz parte da gramática da Libras, se não controlar o seu emocional, você já vai chegar com cara de pânico na avaliação e é até perigoso os avaliadores pensarem que o seu sinal pessoal vem com uma expressão de assustado!
É normal sentir a tensão do momento, a adrenalina, o frio na barriga... se não sentir nada disso, desconfio que você pode ser um robô. Quando eu vou interpretar, ainda tenho essas sensações.
O problema é deixar todas essas sensações aflorarem ao ponto de prejudicar o seu desempenho. Já vi candidatos filhos de surdos que tiveram a Libras como primeira língua não passarem em banca devido ao nervosismo. Tinham um super conhecimento da língua, mas descuidaram do coração.
Também, já tive experiências de atuar como avaliadora em bancas de intérpretes e sei identificar o momento exato em que o pânico “trava” o candidato, e eu fico aflita junto!

Paz e tranquilidade! Mantenha a mente assim, esse é o verdadeiro desafio!

Por isso, seguem algumas dicas:
- Cuidado com as conversas “pré- provas” de Libras. É como o vestibular, você ficar estudando em cima da hora não vai te ajudar, pelo contrário, vai te deixar mais nervoso ao perceber que poderia ter estudado mais. O que ajuda é você se concentrar, fazer sua oração, respirar fundo e confiar em sua bagagem de Libras;
- Preste atenção no que o seu corpo está dizendo. Sentiu acelerar o coração? Dê uma caminhada, tome uma água, respire fundo 3 vezes, faça um alongamento, coma uma bala (para o açúcar ajudar um pouco), procure identificar quais músculos estão tensos e concentrem-se em relaxá-los;
- Não passei! E agora? Ué, tudo bem! Libras é uma aprendizagem de longa caminhada, procure rever sua prova mentalmente e anote quais itens você precisa melhorar e vá atrás disso, faça cursos, estude vídeos, converse com surdos e intérpretes, o mundo está aí! Se você não passou, não é o fim do mundo, é mais uma oportunidade para você estudar e tentar novamente. Ninguém falou que ia ser fácil!

Ajuda muito se você ficar consciente do fenômeno da “sala do pânico”, então, prefira estar no sofá da tranquilidade! Tudo vai dar certo!

Abraço sinalizado,

Priscila

domingo, 18 de fevereiro de 2018

“EU LI E GOSTEI” – SURDEZ E LINGUAGEM


Oi, pessoal da Libras!

Tudo bem?
O post desta semana é uma “resposta” a um comentário de uma leitora do blog. Ela perguntou sobre os livros que já li sobre surdez... eu leio livros sobre surdez e educação de surdos há 11 anos, então já perdi a conta!
Mas tem alguns livros que são fundamentais para quem está estudando Libras, porque para ser intérprete, não basta saber os sinais e a gramática, precisa conhecer a cultura que a língua traz e como a educação de surdos funciona. É um estudar constante!
O livro de hoje é este:


Surdez e Linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas de Ana Paula Santana, Editora Plexus, 2007.

A Dra. Ana Paula Santana foi minha professora na especialização de Psicopedagogia, é uma pessoa muito querida e super competente. Esse livro é meu “xodó”, está até autografado :n)
O livro trata da identidade do sujeito surdo, sobre aquisição de linguagem, maturação cerebral, o surdo bilíngue e as experiências da professora Ana enquanto fonoaudióloga de surdos. Dá uma visão bem ampliada sobre os aspectos linguísticos que envolvem o sujeito surdo.  Para vocês terem uma ideia, eu comprei este livro em 2008 e ainda o uso nas orientações de TCC e nas aulas da faculdade.

Seguem trechos do livro:
“Trata-se o bilinguismo como se esse fosse um método capaz de garantir as interações dos surdos com as duas línguas. Mas o uso da linguagem transcende as instituições. Não é algo individual, e sim social. Assim, não há garantias sobre os usos da língua, sobre a proficiência de seus interlocutores, sobre a relação de cada sujeito com essa(s) língua(s).” (p. 200).

“ O Bilinguismo não pode ser analisado com relação a um padrão ideal ou apenas em termos de proposta educacional. Ele depende de vários fatores interacionais, linguísticos, cognitivos e sociopolíticos” (p. 201).

Bem bakthiniano, não?! :n)


Bom estudo!
Abraço sinalizado,
Priscila

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SINAIS DE SAÚDE - ANTIBIÓTICO

Olá, pessoal da Libras!
 Tudo bem?

Ultimamente tenho pesquisado sobre sinais em Libras na área da Saúde e encontrei este vídeo, muito bom!
Bom estudo!

Abraço sinalizado,
Priscila


domingo, 11 de fevereiro de 2018

“CAUSOS” DA INTERPRETAÇÃO PARTE 2 - A EXPRESSÃO FACIAL IDEAL



Olá, querid@s da Libras! Tudo bem com vocês?

Bom, pensando um pouco sobre o que iria postar nesta semana, lembrei de um “causo” que sempre utilizo em meus cursos.
Eu estava interpretando uma pregação de um pastor convidado e prestando muita atenção na entonação dele. Quem já trabalha com interpretação, sabe disso: você se acostuma com a entonação e o jeito da pessoa que geralmente interpreta (seja na igreja, escola, faculdade, empresa e por aí vai!), então você conhece quando a pessoa está sendo irônica, contando algo triste, se usa muitas gírias ou é mais “sério”, sendo enfático... enfim, a questão é que tudo isso precisa ser refletido em sua expressão facial, na tensão muscular que usa no momento de fazer o sinal, na movimentação do corpo e até na escolha do sinal ideal que vai combinar mais com o contexto. Quando vem alguém “de fora”, sempre acontece uma preocupação! Este tipo de situação rende muitas histórias, tenho uma coleção delas!
Na interpretação, é normal você esperar um pouco até começar a interpretar, para você pode entender o contexto que a pessoa está se referindo e entender a linha de raciocínio que a pessoa está fazendo. E olha que neste caso, eu esperei!! Ele estava contando que um pastor entrou em um restaurante, e um grupo de homens “encarou” o pastor. Sim, ele usou a palavra “encarou”, mais do que rápido meu cérebro me deu esta informação:



Sim, porque quando alguém me diz que foi “encarado”, o sentimento que está incutido aí é de braveza, estranheza, de não ser bem-vindo... coisas deste tipo e adivinha?? Esta foi a minha seleção. O palestrante continuou a descrever a situação de que o grupo começou a falar mais baixo, olhando para o pastor e meus movimentos foram seguindo esta ideia: coloquei o grupo em uma mesa ao lado (imaginei que seria um canto escuro), comecei a fazer expressão de brava. 
No momento de cochichar, encolhia os ombros, dava uma olhada como se estivesse falando de alguém, usava os sinais mais suaves como se tivesse falando mal da pessoa sem que ela percebesse isso e fui enriquecendo a cena.
Quando eu terminei e a cena estava no contexto, o palestrante disse: “Então, quando cheguei perto do grupo eles falaram: Oi, pastor! Tudo bem?”. Neste momento, ele mudou a entonação e usou a voz como se o grupo estivesse realmente feliz ao ver o pastor no restaurante! AHHHHHH.... não!!!!!



Fiz toda uma representação de que ele estava em um daqueles restaurantes “barra pesada”, que aparecem nos filmes de ação e na verdade eu estava indo ao contrário do que ele queria dizer. Nesta vez, a entonação e as palavras que ele utilizou fizeram um outro caminho no meu cérebro de intérprete.




Mais que rápido, mudei a minha expressão corporal. Para quem estava vendo, deve ter ficado fora de contexto! Ô situação!!!  Isso acontece em questão de segundos, como eu sempre digo para meu marido: Não me pergunte como eu faço (hahaha).
Depois vem o momento do “flashback”, em que você termina de interpretar e começa a refazer os seus “passos”, como acontece quando você perde alguma coisa e começa a puxar pela memória os caminhos que fez.  
Nesse dia, fiquei feliz por ter “pensado rápido” e arrumado a cena, mas com aquele sentimento de “ai, ficou tão legal, não acredito que estava errado”. Acontece nas melhores famílias... Mas deixei guardada aquela imagem do restaurante barra pesada em meu cérebro, quem sabe um dia ainda eu uso :n)

E aí, como está o seu estudo na Libras?
Aprenda um pouco mais sobre expressão facial neste post

Tem alguma história para contar? Compartilhe nos comentários!

Um abraço sinalizado,
Priscila

domingo, 4 de fevereiro de 2018

“CAUSOS” DA INTERPRETAÇÃO PARTE 1


fonte: 123rf.com

Olá, querid@s!

Iniciando os trabalhos do Blog Comunicar Dicionário Libras de 2018. Estou na metade do Doutorado em Educação e agora estou conseguindo respirar um pouco :n) Ontem mesmo uma amiga minha me disse: “Você nasceu para estudar”, e acho que é isso mesmo!

Esse ano, resolvi além de compartilhar com vocês algumas curiosidades sobre Libras, que tem ocupado grande parte dos meus posts, resolvi compartilhar também algumas experiências minhas na interpretação ( são 11 anos, como passa rápido!).

Primeiro queria agradecer a todos os leitores do meu blog, tenho recebido mensagens de todo canto do Brasil, de como os materiais aqui compartilhados tem ajudado vocês na aprendizagem dessa língua tão linda que é a Libras. Muito obrigada de coração, sintam-se sempre bem-vind@s!

Para começar, o primeiro “causo” (quer palavra mais brasileira que essa? Amo!) foi como eu aprendi a interpretar. Ok, são vários fatores que levam você a ser um intérprete, se você está começando a estudar Libras já percebeu isso, né? Quando você domina o sinal, falta a expressão, quando consegue perceber sua expressão, falta a tensão no sinal e por aí vai! Por isso, tenha sempre em mente que aprender Libras é para a vida! Assim você fica menos frustrado, hehehe.
Mas eu queria muito muito mesmo interpretar (e acho que isso tem grande relação com o esforço que você dedica na aprendizagem), tanto que fiquei fluente em 10 meses (sim, é possível!). Então eu tinha minha rotina de estudos em casa (15 sinais por dia de qualquer categoria), leituras de livros e artigos para entender como a língua funcionava e no final de semana aproveitava para conversar com os surdos da minha igreja para adquirir fluência e saber mais como os surdos eram.
Também, tinha uma estratégia. Os cultos em nossa igreja (Primeira Igreja Batista de Curitiba) têm interpretação em Libras, ou seja, temos uma escala com os intérpretes para cada culto. Eu ainda não tinha entrado na escala, então aproveitava para aprender novos sinais (nerds né, eu sei!). Eu lembro que tinha um caderninho que carregava na bolsa para cima e para baixo, fazendo anotações “de campo”.
Então, essa era a estratégia: quando alguém ia interpretar, meu caderninho ficava a postos e eu anotava os sinais que eu não conhecia de um jeito que eu saberia como perguntar depois, por exemplo: Configuração em C, altura do coração lado esquerdo, com o movimento de cima para baixo. Aliás, para fazer isso, você precisará saber quais são os parâmetros da Libras, confira neste post
Eu anotava (tinha que ser rápida, como dizem, “um olho no peixe, outro no gato” para não perder os outros sinais) e depois ia conversar com o intérprete para pedir ajuda, se ele poderia me explicar o significado daquele sinal (que nesse caso é COMPAIXÃO).
Uma coisa que falo para meus alunos, é que nunca se sabe tudo! Precisa ser humilde para saber que, na Libras, você sempre vai precisar de ajuda de alguém para aprender algo novo, tanto de surdos quanto de intérpretes.
Essa do caderninho me ajudou muito e creio que pode ajudar você também a aumentar o seu vocabulário, claro que hoje tem gravação (aliás, é educado pedir antes para o intérprete se você pode gravar ou fotografar, #ficaadica), anotações no celular e por aí vai. Em 2007 os celulares não eram tão “smarts” quanto são agora ;n) Você vai ver que com o passar do tempo, seu caderninho vai ficando mais vazio e você vai começar a memorizar mais os sinais... mas para isso, precisa de prática!

Confira também: Dicas para estudar Libras

Não desista!

Um grande abraço sinalizado,


Priscila Festa